Sarandi Em Fatos - 2013. O Ano que Deveria Iniciar em Março
Data de publicação: 7 de fevereiro de 2013
Coluna: José Leal
Colunista: José Leal
Porque um ano deveria ter onze meses, iniciar no terceiro mês e sem os dois primeiros, janeiro e fevereiro. Um desejo tão estranho e improvável que pode parecer loucura pensar assim.
Mas, as vezes recorremos ao improvável para buscar explicações, para evitar sofrimentos, para tentar acreditar no que a vida coloca á nossa frente e não nos deixa fechar os olhos para não ver e fazer de conta que não é verdade.
É improvável e impossível um ano começar com dois meses de atraso, iniciar em março, mas esse foi o desejo de milhares de gaúchos, de milhares de sarandienses, de centenas de chapadenses, de rondaltenses, de palmeirenses e barrafundenses.
Estamos sendo sufocados nesses dois primeiros meses de 2013 por uma avalanche de tragédias e fatalidades que nos faz desejar que esses dois primeiros meses não existissem.
O Rio Grande sofreu coletivamente com a morte de centenas de jovens na tragédia de Santa Maria. Chapada perdeu um jovem nessa tragédia. Em Barra Funda uma mãe vive a angustia de ter o filho entre as vitimas ainda se recuperando. Palmeira das Missões também sofreu com vítimas fatais no mesmo incêndio. Nas últimas semanas Ronda Alta e Rondinha foram abaladas com três mortes violentas.
O tempo para assimilar e tentar entender as fatalidades e tragédias tem sido tão curto que nos deixa atônitos e enquanto buscamos explicações novos golpes nos atingem como se janeiro e fevereiro insistissem em ficar negativamente para a história no ano de 2013.
O ano recém está no seu segundo mês, mas muitos de nós gostaríamos que ele nem tivesse começado ou já estivéssemos em março. Ficou para trás o tempo em que janeiro e fevereiro eram dois períodos que só antecediam o carnaval. De 2013 em diante, janeiro e fevereiro serão para sempre lembrados como os meses de um ano que poderia ter iniciado em março, afinal, até mesmo o carnaval, tão esperado até então, perdeu a graça e a alegria.
Acordamos em um domingo e paramos em frente a televisão incrédulos ao ver programas sendo interrompidos e o anúncio inicial de 50 mortos abalou o Estado. Não sabíamos que esse número cresceria a cada minuto e assim os gaúchos passaram aquele dia, praticamente em frente a tv rezando para que as mortes terminassem mas o que era possível estando longe era apenas rezar, mas, a fatalidade já estava consolidada. Depois daquele domingo, vieram as segundas, terças, quartas, quintas, sextas, sábados e outros domingos e segundas e assim por diante e o Estado ainda em busca de explicações para tantas mortes.
Entre essas “ segundas” de janeiro e fevereiro Sarandi tem também uma delas que gostaria que não tivesse acontecido, que a semana iniciasse na terça-feira assim como que o ano começasse em março. Em Santa Maria centenas de jovens perderam a vida enquanto comemoravam mais uma fase nas suas formações profissionais na universidade onde, na sua linguagem, “ralam” até a formatura e assim seguir profissionalmente. Dioguenes “ralou” na universidade e formou-se profissionalmente. Ele já levava adiante aquilo que para os jovens de Santa Maria ainda era um sonho. Dioguenes havia realizado um sonho, tinha outros mas foram interrompidos numa segunda-feira de fevereiro assim como os sonhos dos jovens de Santa Maria tiverem sonhos interrompidos num domingo da janeiro. Janeiro e fevereiro de um ano que poderia iniciar em março.
Mortes acontecem, elas fazem parte da nossa passagem pela Terra. Elas vão continuar acontecendo em 2013. Devemos estar preparados mesmo não sabendo quando elas acontecerão. Doenças e enfermidades interrompem vidas e elas também fazem parte do nosso dia-a-dia. Mas, enquanto nos é permitido sonhar com o improvável e o impossível, como seria menos triste se 2013 iniciasse em março, assim janeiro e fevereiro não nos teriam causado tanta tristeza.
Por José Leal/ Folha da Produção
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