Tatuagem - Kerley Carvalhedo
Data de publicação: 22 de agosto de 2017
Coluna: Kerley Carvalhedo
Colunista: Kerley Carvalhedo
Quando completei 18 anos fiz uma tatuagem. Todo adolescente já teve vontade fazer uma eu tive e fiz. Escondido da minha mãe, mas fiz. O meu problema maior não era fazer uma tatuagem, mas sim o que fazer e onde... Eu sabia que se fizesse era algo que ficaria pra “sempre” no meu corpo, então tinha que escolher algo que eu não pudesse me arrepender depois.
Dentro do estúdio no dia marcado pra fazer a minha tatoo eu desisti. Customizei vários desenhos, mas não gostei de nenhum. Voltei no dia seguinte e fiz algo definitivo, algo que não me arrependeria e que tivesse um significado para mim. Passei tempos tentando esconder pra minha mãe não descobri, não teve jeito ela descobriu. Anos depois, mas descobriu. No dia em que descobriu quase surtou, ficou como uma daquelas mulheres de novelas mexicanas, fez um drama que nunca vou me esquecer.
Há alguns anos atrás a tatuagem era considerada marca registrada de um marginal, bandido, marca da besta... Era sinônimo de gente que não presta. Qual foi a importância de eu ter tatuado algo em meu corpo? Nenhuma para as outras pessoas, para mim teve. Quando algumas pessoas vêem a tatuagem logo pergunta: Dói? Claro que dói! Mas dói menos que tatuar e nutrir uma mágoa no coração. Dói menos que carregar uma vontade de querer e não fazer. Dói menos que um amor traído. Dói menos o desejo proibido dos amantes. Dói menos, muito menos que qualquer sentimento dilacerador dentro do peito. Dói, mas logo logo passa. O que dói mesmo é o arrependimento de não ter feito.
Se eu faria outra? Por que não? Faria outra, só que agora com menos emoção do que a primeira. Tatuagem será sempre uma marca pessoal, uma maneira de dá significados aos nossos sentimentos, é uma maneira de deixa-los numa forma física. Seja lá o que for fazer, se for definitivo faça com muito cuidado para não se arrepender depois. Mas primeiro assuma sua personalidade.
Só não tatuem em seu coração mágoas, tristezas, ódio, angústia, amargura, desprezo, ressentimentos, medo, orgulho, culpa, vergonha, complexo de inferioridade e o que mais mata; o preconceito.
Kerley Carvalhedo