Fui, amor - Kerley Carvalhedo
Data de publicação: 6 de dezembro de 2017
Coluna: Kerley Carvalhedo
Colunista: Kerley Carvalhedo
No mês passado recebi um telefonema de uma amiga chamado para sai com ela. Tá, eu vou. No horário marcado fui buscá-la em sua casa e adivinhe - ela ainda estava descabelada, enrolada à uma toalha - nem sequer tinha levantado do sofá. Ela Pediu para que eu entrar sentar e esperasse só um pouquinho enquanto ela tomava o banho rápidinho, foi o que ela disse “rápidinho”. que, aliás, esse rápidinho dela custou tanto que ela não deveria tomar outro banho nos últimos 40 anos. Sentei no sofá e fiquei aguardando a testadora de paciência. O tempo que fiquei a esperando dava para eu assisti todos os filmes e seriados que estivesse passando na tevê - e nem sinal da minha amiga aparecer. Imaginei – deve ter morrido de um infarto fulminante dentro do banheiro e nem a ouvi pedir por socorro. Mulheres e seus processos de montagem - é cabelo, roupa, sapato, maquiagem, perfume, joias. Ufa. São rituais que não acabam mais. E olhe que ela nem tinha saído do banho ainda.
Quanto mais tempo ela passava no banho mais curta minha paciência ficava. Infelizmente ou felizmente não sei, mas não nasci com essa dádiva chamada paciência, peguei um lápis e papel e escrevi um bilhete com a seguinte frase: “FUI, AMOR.” e deixei o bilhete em cima do sofá.
Durante o tempo do banho da minha amiga, decidi ir à casa de um amigo que morava há uns dois quarteirões da casa dela - eu e ele já estávamos jogando a uma partida de xadrez quando a histérica me liga desesperada aos berros perguntando onde eu estava - preocupada comigo resolveu ligar Blá, blá, blá e disse que leu o meu bilhete deixado no sofá, mas só ligou porque tinha desistido de sair. O vestido que ela estava pensando em usar estava emprestado para a sua prima e não se lembrava disso - me pediu desculpas e desligou o telefone. Eu já estava na casa do meu amigo mesmo não fez tanta diferença até então.
Dias depois encontro minha amiga no parque fazendo caminhada com outra colega dela e durante o trajeto que percorremos juntos ela me contou sobre o bilhete que deixei no sofá para ela. Só lembrando que a mãe da minha amiga não estava em casa no dia em ela me chamou pra sair – sua mãe havia feito uma viajem, mas retornaria no dia seguinte. A surpresa não podia ser outra - sua mãe sentou no sofá e leu o bilhete que ainda estava lá. Acredite se quiser, o bendito bilhete deu uma maior confusão.
Imagine comigo a lentidão da minha amiga que nem se deu o luxo de recolher o bilhete. Foi aí que o pior aconteceu - a mãe da minha amiga fez um longo interrogatório como se ela fosse condenada à forca caso não confessasse a verdade - tudo por um mero bilhete. Coitada da pobre criatura lenta. Sua mãe perguntou quem o dito cujo que havia dormido com ela e ainda deixou um bilhetinho escrito “FUI, AMOR. Ela queria saber detalhes – como ele era – qual o nome - novo ou velho e ainda ameaçou a coitadinha a não esconder nada. A tentativa frustrada de explicar a situação só piorava porque sua mão não era capaz de acreditar na história. Foi uma confusão só, “tudo” por um simples bilhete deixado no sofá. A coisa só ficou bem depois que conversei com a mãe da minha amiga (lesma), explicando o tal acontecimento, mas mesmo assim ela não parecia está convencida da verdadeira história. Mas tudo ficou bem. Isso acontece.A lição foi, nunca mais deixar um bilhete por aí dando bobeira em qualquer lugar. Espero que minha amiga tenha aprendido a lição também, ou pelo menos raciocine um pouco mais rápido para retirar o bilhete da próxima vez.
Kerley Carvalhedo